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Uma Bondade Perfeita

Uma Bondade Perfeita

Na entrega do Prémio PEN Clube - Novelística, em 21 de Novembro, na SPA

Clemente, um carrasco de 26 anos, tem por tarefa executar a mãe, Alcina. Recorre a um frade, Filodemo, cujo passado de jornalista ilumina existência crua e vingativa de Menigno, director da prisão. Nesta prisão ¬(após salvar a filha), acaba de morrer quem compensou Clemente da ausência materna ¬‒ Ágata, raio de bondade entre os refugiados do Afeganistão, onde Menigno, apoiado num Ocidente cínico, erigira império do mal.
A história alterna na voz de Clemente e Filodemo, desde o cair do dia até à madrugada em que tudo se decide, com vitória da razão.
Em atmosfera de contra-informação e terrorismo, seguida, já na pátria amável (com beira-mar proibida), de reunião de familiares destinados à morte, mostra-se o cálculo de um psicopata, em cuja teia as próprias vítimas colaboram. Raras embora, a humanidade encontra sempre, todavia, uma praia do bem.
Assim, quem nos salva é, não o altruísmo mecânico de mãe biológica – Alcina, que dirige uma ONG –, mas Ágata (bondosa, em grego), que, erguida entre as maiores violências, persegue o bem supremo da paz de consciência, e culmina neste Séneca dirigindo-se a Lucílio: «Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus.»
Dito de outra forma: a humanidade não se salva se o mal nos torna maus, pois seremos iguais a quem nos venceu. É isso a escalada da guerra, não raro alimentada pelos media e seus manipuladores. Ser inteligentemente defensivo é outra coisa, e, desde logo, obviar à iniquidade, nem que a única saída, sempre em aberto, seja a morte – morte digna, como a de Ágata.
Esta figura condensa a imagem que tenho de minha Mãe e da sua irmã, minha tia, Maria de Lourdes. Trago comigo a voz e o sorriso delas. À Teresa, que ainda conheceu aquela, e aos meus primos [presentes, Manuel das Neves Doutel e Domingos Doutel] dedico este momento, rodeado de tantos amigos [Ana Diogo, D. Celeste, João de Deus Rodrigues, José Mário Leite, José Luís Lopes da Mota, Manuel Frias Martins, Maria Carlos S. Aldeia, Paula Trindade, Vera Prescott, Victor Rodrigues, etc.], de iguais premiados [Fernando Pinto do Amaral, Rui Miguel Mesquita], do mecenato governamental [Silvestre Lacerda], de um júri [Teresa Cadete / Teresa Salema, Helena Barbas, Francisco Belard] que algum mérito viu nesta prosa tensa e fílmica, editada por chancela muito particular no nosso panorama [Gradiva: Guilherme Valente, Rodolfo Begonha, Fátima Carmo, Helena Rafael], a quem eu pedira não candidatar-me a prémios… Verdade é que estou profundamente grato a todos.

Uma Bondade Perfeita vence Prémio PEN Clube de Narrativa

Ernesto Rodrigues venceu, com o romance Uma Bondade Perfeita (Lisboa, Gradiva, 2016) – já traduzido em romeno –, o Prémio PEN Clube Português na categoria de Narrativa, cuja entrega será no dia 21 de Novembro, às 18h, na Sociedade Portuguesa de Autores.
Tendo como pano de fundo o drama dos refugiados, Uma Bondade Perfeita narra os desatinos de um psicopata e mostra que quem nos salva é, não o altruísmo mecânico de uma qualquer mãe biológica, mas Ágata (bondosa, em grego), a qual, erguida entre as maiores violências, persegue o bem supremo da paz de consciência, culminando neste Séneca: «Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus.»
A humanidade não se salva se o mal nos torna maus, pois seremos iguais a quem, assim, nos venceu. É isso a escalada da guerra, não raro alimentada pelos media. Ser defensivo é outra coisa, e, desde logo, obviar à iniquidade, que conduz à servidão, nem que a única saída, sempre em aberto, seja uma morte digna.
Os prémios PEN Clube, também em Poesia e Ensaio, têm o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).

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